domingo, 18 de outubro de 2009

O velho e o lago

Na única superfície de terra existente no extenso lago Guanatis mora um velho ermitão que isolou-se há muito tempo das interações sociais. Pensava ele na época que só assim poderia encontrar uma resposta, e no momento em que chegou na ilha, destruiu o seu barco, fazendo dele uma fogueira.
Após muitos anos, tempestades e céus azuis, não sabia mais o que eram os outros. Só sabia o que era aquele pequeno espaço, onde construiu sua pequena cabana e plantou tomates, rúculas, repolhos e cebolas. Lembranças a respeito do passado soavam demasiadamente vagas e preferia tratá-las como sonhos e pesadelos que teve numa noite qualquer.
Vinte e um anos depois de abandonar sua vida antiga, viu algo que o deixou irriquieto. Um a canoa deslizava pelo horizonte. O minúsculo remador brincava com a água. Era maravilhoso para o velho observar o movimento alternado do único remo, entrando em sincronia com o lago que já começava a refletir a invasão da noite. Aos poucos a imagem do remador foi diminuindo, até desaparecer por completo. Gritava e chorava o velho. Viu a resposta esvanecer. Mergulhou, mas tinha esquecido o que era nadar. Afogava-se. Debateu-se até se cansar e desistir de realizar esforços. Achou que seria engolido pelo lago, mas na verdade o que aconteceu foi que o lago o trouxe de volta para a ilha. Sentiu-se feliz por estar vivo ainda, mas a angústia era grande, a resposta tinha sumido.
Inúmeras tentativas de deixar a ilha foram realizadas pelo velho. Sem alguma explicação o lago impedia que o velho saísse, ou até mesmo morresse afogado, o que naquele momento seria até melhor do que a imensa melancolia de viver naquele lugar.
Assumiu que foi condenado, ou melhor, condenou-se ao adotar o isolamento na ilha. Impotente, o velho agora mira o horizonte, esperando ansiosamente uma nova aparição da canoa, na esperança de que algum dia chegasse mais perto dele, para que conseguisse finalmente vencer o lago.

Um comentário:

  1. Alguém precisa lembrá-lo de que nenhum homem é uma ilha, e tem que ser ele próprio.

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