terça-feira, 29 de setembro de 2009

Zoom Out

A brincadeira. As cantigas. A infância.
O balanço. O beijo. O sorriso.
A íris. O vazio. A opacidade.
O leito. Os corpos. O sexo.
O homem. A pergunta. O silêncio.
A buceta. A porra. A puta.
A camisa. As calças. As roupas.
A porta. A janela. A casa.
A solidão. A tristeza. A morte.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Equivocado

Ao meu redor havia uma grande quantidade de túneis. Escolhi aquele que era o mais simpático para mim. Caminhei um pouco e à minha frente logo apareceram uma série menor de outras entradas. Escolhi uma delas. Estava escuro. Acendi minha lanterna e iniciei a caminhada.
Caminho até agora e tenho a certeza de que não fiz a escolha certa. O ambiente do túnel não é nada agradável. Sinto o cheiro de podridão no ar e a cada passo que eu dou parece que estou sendo observado por uma centena de olhos. Como as baterias de minha lanterna aguentaram tanto tempo eu não sei, mas ainda estão acesas. Não sei o porquê de continuar seguindo em frente. Minhas pernas estão desgastadas pelo cansaço e eu já não aguento caminhar, mesmo assim continuo a fazê-lo. O pior de tudo é saber que em breve estarei diante de um paredão de cimento, sem perspectiva nenhuma de conquistá-lo. Provavelmente deve ter um pedaço de papel próximo ao paredão com alguma mensagem. Nada que seja muito relevante.
Já que estou próximo do final, resta caminhar até lá, mesmo que a passos tortos, e decidir então o que fazer. Talvez voltar e escolher um outro túnel e torcer para que seja muito mais agradável do que este.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Mea Culpa

Estranho seria olhar para a minha imagem diante do espelho e encará-la com normalidade. Meu rosto foi completamente deformado em um acidente de carro, e o reflexo apresenta aquela imagem que provoca diariamente o espanto daqueles que me olham. É extremamente difícl viver enquanto uma aberração. Desde que minha aparência foi assolada no acidente, já não consigo mais vagar pela rua e evitar que seja notado e julgado pelas faces espantadas. Uma caminhada qualquer pela rua acaba sendo um espetáculo semelhante àqueles circos de horrores, é uma combinação de curiosidade, repulsa e assombro. Mesmo as pessoas mais próximas não conseguem conversar comigo sem que eu perceba em suas expressões a sensação de asco.
Chego então à conclusão de que o preconceito é latente à natureza humana. O discurso democrático de aceitação das diferenças simplesmente não se aplica à realidade. As leis que inibem o preconceito funcionam para evitar a transformação do mundo em um circo de horrores, mas ainda assim não o aniquilam, ele está presente em todas aquelas pessoas que passaram por mim na rua, por exemplo. Falo isso a partir do meu ponto de vista, um ser humano que vive constantemente com o preconceito, inclusive quando encaro a minha deformidade no espelho, que sempre foi uma espécie de cartaz anunciando a minha bizarra imagem perante a sociedade.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Um breve diálogo com a mente

Mente presente,
tão fora de mim.
Estás tão ausente,
és sempre assim.

Viajas para longe,
dás a volta ao mundo
e num breve segundo
estás logo aqui.

Mente ausente,
te vejo tão perto
te sinto tão longe
Por que foges de mim?

Prevês o passado,
Lembra-te do futuro,
vês outros presentes,
presentes ausentes.

Ausente mente presente,
para onde irás ontem?
Para onde foste amanhã?
Tão perto e tão distante...