sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A última batalha naval

- G7.
- Acertou o meu último submarino.
- Até que enfim.
- Parabéns.
- Obrigado.

Cumprimentaram-se e seguiram em direções opostas para os seus respectivos quartos, abandonando o salão de confraternização quando o relógio apontava dez minutos para a meia-noite.
Na manhã seguinte, anunciaram no asilo o óbito de ambos os idosos, os jogadores da última noite.
John Palmer morrera de falência múltipla dos órgãos e os músculos de sua boca estavam modelados em um sorriso de extrema satisfação, como se no suspiro fatal houvesse exalado uma derradeira alegria, provocando o alinhamento das rugas faciais de acordo com o que sentia.
Louis Davenson cometera suicído. Overdose de medicamentos. Encontraram-no deitado de bruços e uma fina espuma escapava-lhe pela boca e manchas roxas cobriam-lhe o corpo. O quarto fora o palco de um espetáculo doloroso de convulsões e alucinações. Os olhos opacos exibiam a fotografia do sofrimento.

Melhor do que qualquer descrição física do caso é uma descrição psicológica. John havia ganhado sua primeira partida desde a sua chegada no asilo e considerava-se um fracassado em vida. Louis detinha um recorde de 148 jogos sem perder e o sabor da derrota nunca havia encontrado abrigo em sua boca.
Naquela noite, meus caros, um simples passatempo tornou-se uma batalha épica, consagrando o derrotado em vida e rebaixando um vitorioso à derrota. Não exagero em afirmar que o fato foi o apogeu e a ruína de dois homens, provando que um simples fato pode alterar totalmente a condução da vida à morte, o destino inevitável.

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