terça-feira, 11 de agosto de 2009

A nebulosa Petrópolis

Acordo pela manhã e abro a janela do meu quarto. Estou cercado por uma redoma de névoa e o branco-acinzentado domina completamente a paisagem, que de tempos em tempos ganha recortes circulares e amarelados provocados pelos faróis de veículos, de passagem pelas ruas do Valparaíso.O ruço petropolitano, como é chamado pelos próprios habitantes, muitas vezes é associado ao famoso Fog londrino pelos turistas ou moradores mais recentes, tornando a cidade mais charmosa e aconchegante, ainda mais quando é combinada com o frio e as encantadoras ruas do centro histórico, pelo menos é o que dizem.
Resolvo sair do apartamento e dar uma volta a pé, vestindo uma bota com meia grossa, uma calça jeans, uma blusa de manga comprida e mais dois casacos de moletom, sendo um deles com capuz, elemento essencial para se proteger da chuva fina que acompanha os petropolitanos a maior parte do ano, sem nenhum exagero.
Ao iniciar o passeio, percebo que o meu campo de visão está limitado em um raio de uns cinco metros, aproximadamente. É como eu estivesse caminhando com uma coluna invisível me protegendo para não ser engolido pelo branco. Pessoas e os faróis de neblina dos carros passam por mim e perdem-se no ambiente em questão de segundos. Uma constante sensação de claustrofobia me incomoda, parece que em breve serei espremido por toda aquela massa de ar e umidade que me acossa desde que saí de casa. As calçadas acompanham as inclinadas ruas construídas sobre os morros petropolitanos, mas enquanto caminho mais parecem que nascem e morrem no ruço, assim como casas, árvores ou qualquer coisa que entre no meu raio de visão.
Chego na Rua do Imperador, principal rua de Petrópolis, cortada pelo rio Piabanha e margeada por sapatarias, bancos e farmácias, em grande maioria. Conforme ando por ali, percebo os petropolitanos andando em minha volta, provavelmente resolvendo algum problema ou fazendo alguma compra na chamada "Vinida", no bom vocabulário petropolitano. Todos usando casacos, gorros, capuzes e até luvas. Mas o que mais me impressiona não são as vestimentas, mas sim as expressões presentes nos rostos e o modo de caminhar. Os olhares são bastante diferentes daqueles que já vi em dias chuvosos na Avenida Rio Branco ou na Avenida Paulista. Aqueles estavam cobertos de preocupações momentâneas, certamente ganhariam outros tons após o trabalho. As preocupações também estão presentes nos olhares dos petropolitanos que vagueiam pela Rua do Imperador, entretanto algo mais está impregnando a retina, a íris e as pálpebras. Parece um certo cansaço de tanto carregar um peso enorme, talvez o peso daquela neblina. Assim como os olhares pesados , as caras eram discretamente fechadas, com narizes levemente avermelhados por causa da umidade, e bocas estagnadas, impedindo os dentes de surgirem em meio aos lábios, provocando-me uma sensação de cansaço ainda maior.
Voltei para o meu apartamento e refleti. Percebi que em minha caminhada passei por umas duas centenas de pessoas, algumas eram até conhecidos meus que chegavam a abrir um sorriso momentâneo só para realizar o cumprimento, mas após passarem por mim, retomavam a expressão padrão. Concluí, então, que as pessoas pareciam produzidas pela própria névoa. Demonstravam ser produtos de uma linha de produção, com algumas diferenças como a cor ou o tipo de vestimenta, mas no fundo tinham a mesma cara, o mesmo jeito de caminhar, demonstrando em ambas um enorme esforço, algo como a obrigação de carregar um grande peso. Decidi me olhar no espelho. Lá estava aquela mesma expressão em meu rosto. Provavelmente caminhei da mesma maneira. Sem mais devaneios sobre tudo aquilo, assumi que também era mais um dos elementos produzidos pela neblina, e aquele peso que parecia estar presente em todas as outras pessoas, também estava comigo. Não sei o quanto pesava para os outros petropolitanos, mas a mim o peso soava como uma infelicidade, tinha a massa de um desconforto e a gravidade de uma tristeza.

Um comentário:

  1. é petrópolis! xD

    recomendo o seu texto para qualquer um que queira vir conhecer a cidade.

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