terça-feira, 9 de agosto de 2011

Carta de um (im)possível eremita

O mundo já não me agrada, ou melhor, os seres humanos que nele vivem são objetos de um profundo desagrado por minha parte.

Fome, guerras, doenças, desmatamento, corrupção, futilidade, drogas, superficialidade, eis os produtos da humanidade. Parafraseiam Gandhi, Luther King, São Francisco de Assis e Jesus. Da boca, cospem as palavras bondade, honestidade, igualdade, respeito, solidariedade, compaixão, utilizando-as banalmente, como dejetos que saem de nosso corpo. Hipocrisia. Como se a humanidade fosse composta somente por Madres Teresas ou Betinhos. Onde estão os Hitlers, os Genghis Khans, os Milosevics, os Idi Amin Dadas? Esses já não existem mais? Ah, duvido. Vejo-os todo dia, passeando por aí e fantasiados em moralismo barato.

Deixarei tudo isso para trás. E a família? Ah, a família, unida, bondosa, certamente notará e chorará a minha ausência. Puro tradicionalismo. Sempre foi assim, mãe e pai tem que amar o filho. Tias, tios, avôs e avôs também. Primos idem. Por quê? Porque sim. Sempre foi assim. A sociedade sempre mandou e eu, até agora, a obedeci.

Carpe Diem, Carpe Diem, Carpe Diem. Aproveitar o dia? Bela filosofia. Vou tatuá-la no pulso para ler todos os dias, assim que acordar. “Não, não vou. Tenho que pedir esmola para comprar comida e catar pedaços de papelão para me proteger do frio” , disse o mendigo.

Ajudar os pobres? Ah, fiz isso uma vez. Fui num abrigo de crianças pobres e órfãs, levei brinquedos e comida, mas só para um mês. Depois disso, meia-dúzia delas morreram desnutridas. Não tive tempo para visitá-las depois. Que pena.

Religião? Estorinha para acumulação de capital. “Religião é o ópio do povo”.

E aquela corja de políticos safados? São todos safados e ladrões. TODOS. Ah, é exatamente por isso que eu não faço questão de lembrar em quem eu votei nas últimas eleições. Na verdade, vou queimar meu título de eleitor. Cidadão? Nunca mais.

Eu te amo pra cá, eu te amo pra lá. Sexo, sexo, sexo. Promiscuidade generalizada. O amor é uma puta maquiada.


Vou ser eremita. Eu estou cansado disso tudo. Eu cometo erros, mas a humanidade é podre e não quero mais fazer parte dela. Eu vou me isolar. Eu sou alguém que não aceito mais isso. Eu sou diferente disso tudo. Os outros são todas essas coisas. “Eu, sou um outro”.



Eu, existo? Eu existe?



Nas montanhas, serei só. Eu, não existirei. Serei o nada. Um pedaço de carne ambulante. Não serei mais humano. Não saberei quem são os outros e os outros não saberão quem Eu sou. Eu só existe com os outros. Nasci com eles. Aprendi a andar, comer, pensar com eles. E agora Eu os abandonarei? Em muitas coisas eles erram, mas será em tudo? Apesar disso, nunca me negaram. Nunca disseram que eu não existo. Com eles, Eu existo! Nas montanhas, Eu não existirá. Só na minha cabeça. Mas aqui, Eu existo. Eu aprendo. Eu noto as diferenças, Eu me revolto, Eu grito, Eu rio, Eu amo. Sim, agora eu sei.

Para as montanhas me recuso a ir. Continuarei mergulhado na sociedade, na humanidade, na troca de experiências, no beijo e no abraço!


Ass:

Eu,

um humano, demasiado humano.


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